História da quimioterapia

Sidney Farber nasceu no estado de Nova York em 1903. Foi o primeiro patologista a trabalhar em tempo integral no Children’s Hospital em Boston. Escolheu, entre todos os cânceres, dedicar a sua atenção a um tipo específico de câncer: a leucemia aguda, abandonada pelos clínicos, que não dispunham de tratamento contra ela.

Para compreender o câncer em sua plenitude, ele raciocinava, é preciso que a doença tenha uma característica singularmente sedutora: que possa ser medida. Nisso, a leucemia era diferente de todos os outros tipos de câncer.

Num mundo antes da tomografia computadorizada e da ressonância magnética, quantificar a mudança de um tumor sólido, como câncer de pulmão ou mama, era praticamente impossível.

Mas a leucemia, flutuando livremente pelo sangue, poderia ser medida tão facilmente como as células sanguíneas - tirando-se uma amostra de sangue ou de medula óssea para examinar ao microscópio.

Ao tomar consciência do trabalho de uma jovem médica, Lucy Wills, que foi à Índia estudar uma espécie de anemia conhecida por anemia perniciosa e que melhorou com reposição de ácido fólico (nutriente encontrado em frutas e hortaliças), Farber se indagou se administrar essa substância (ácido fólico) poderia restaurar a gênese do sangue.

Entretanto, ele percebeu o contrário: que a administração do ácido fólico acelerava a leucemia, com explosão das células leucêmicas na corrente sanguínea.

Farber ficou intrigado. Se o ácido fólico acelerava a produção de células leucêmicas, o que aconteceria se ele pudesse cortar o seu suprimento com outra droga – um antifolato? Após testar várias substâncias antifolato, Farber recebeu uma conhecida como aminopterina. Ele pegou a droga e injetou em uma criança com leucemia, esperando, no máximo, que o câncer regredisse um pouco.

A resposta foi significativa. As células blásticas leucêmicas gradualmente diminuíram, até quase desaparecer. O baço e o fígado diminuíram de tamanho de forma espetacular.

Assim, começou a história do tratamento do câncer, com o sonho de células malignas mortas por drogas especificamente anticâncer e com a tão desejada cura da leucemia.

Texto adaptado do livro O Imperador de Todos os Males