Interpretação do Hemograma

É fundamental o conhecimento e a interpretação adequada do hemograma para a definição diagnóstica da anemia, da alteração de leucócitos e de plaquetas. Portanto, o primeiro passo é interpretá-lo corretamente.

 

As alterações no exame de hemograma como anemia, alteração dos glóbulos brancos ou 

leucócitos e das células de defesa (neutrófilos e linfócitos), além da diminuição ou aumento da contagem de plaquetas, devem ser avaliadas cuidadosamente.

 

Segundo a OMS, anemia é definida por valores de hemoglobina abaixo de 12 g/dL para o sexo feminino e de 13 g/dL para o sexo masculino. O hematócrito se relaciona com a hemoglobina por ser três vezes mais que o seu valor. Desta forma, os valores ideais de hematócrito seriam 36% ou mais para as mulheres e 39% ou mais para os homens.

 

Os níveis hematimétricos também têm um valor máximo: hemoglobina até 17 g/dL e 

hematócrito até 51%. Acima desses valores, temos a poliglobulia que pode ser devido a uma doença primariamente hematológica (policitemia vera) ou secundária àlguma doença ou situação. Por exemplo, paciente com doença pulmonar obstrutiva crônica ou morador de grandes altitudes.

 

Voltando à anemia, assim que identificada, o exame a ser solicitado é a contagem de 

hemácias jovens, chamadas de reticulócitos. Quando temos mais que 2% de reticulócitos, 

devemos inicialmente fazer a sua correção: [(reticulócitos x hematócrito do paciente)

divididos pelo hematócrito padrão de 45%]. Se após a correção dos reticulócitos, eles se

mantiverem em um nível acima de 2%, deve-se pensar em hemólise ou hemorragia aguda.

 

Caso os reticulócitos estejam baixos, outras causas de anemia devem ser aventadas.

Em caso de anemia, é muito importante o valor do volume corpuscular médio (VCM), da 

concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e índice de anisocitose (RDW) que avalia a quantidade de hemácias de tamanhos diferentes. 

 

O valor normal do VCM é de 80 a 100 fL. A partir daí, identificamos 3 tipos de anemia 

conforme o tamanho da hemácia: microcítica (VCM<80), normocítica (VCM entre 80 e 100) 

e macrocítica (VCM>100). Exemplos de anemia microcítica são a anemia ferropriva, a 

talassemia minor e a anemia sideroblática, enquanto que anemia megaloblástica é uma 

causa de anemia macrocítica.

 

O CHCM tem como valores normais de 31 a 37 g/dL de hemácias. A anemia com níveis baixos de CHCM são consideradas hipocrômicas como anemia ferropriva e talassemia, níveis normas de CHCM nos leva ao diagnóstico de anemia normocítica e níveis altos ao diagnóstico de anemia hipercrômica como as hemoglobinopatias. Um exemplo clássico é a esferocitose hereditária.

 

Em relação à série branca, o valor dos leucócitos é de 4.000/mm3 a 11.000/mm3, sendo que a maioria da população tem entre 4.000 e 5.000 leucócitos/mm3. Para avaliar os leucócitos, devemos prestar atenção ao seu diferencial: basófilos, eosinófilos (aumentados – acima de 500/mm3 - em casos de atopia e verminose, principalmente), os neutrófilos ou granulócitos por apresentarem grânulos no citoplasma (mielócito, metamielócito, bastão e segmentado) que têm um valor entre 1.500 a 7.000/mm3. 

 

Acima de 7.000 neutrófilos/mm3, temos a neutrofilia e devemos ter como principal 

diagnóstico uma infecção bacteriana. Abaixo de 500 neutrófilos/mm3, temos uma 

neutropenia grave e que suscita muito cuidado, pois, em caso de febre (> ou = 38C) e não se inicie um antibiótico de largo espectro para germes Gram negativos rapidamente e o 

paciente tenha uma infecção, o índice de mortalidade em 48 horas se aproxima de 100%.

 

Os linfócitos são parte da nossa defesa celular e o seu valor deve estar entre 1.000 e 5.000 

linfócitos. Quando ocorre linfopenia (<1.000/mm3), o paciente está sujeito às infecções 

oportunistas como P.carinii. Já valores acima de 5.000 linfócitos/mm3, pode haver uma 

infecção viral e, se essa linfocitose for assintomática e sobretudo em idosos, pode ser 

leucemia linfocítica crônica (LLC). O monócito tem o seu valor até 500/mm3 e a monocitose, costuma ocorrer em infecções graves como endocardite, tuberculose e sepse  ou em recuperação medular após realização de quimioterapia.

 

Por fim, o valor das plaquetas é entre 150.000 e 450.000, mas 99% das pessoas tem em torno de 200.000 plaquetas/mm3. Uma das principais causas de trombocitopenia é a 

pseudotrombocitopenia, onde ocorrem grumos e macroplaquetas que não são 

contabilizados pela avaliação do hemograma. Outras causas podem ser trombocitopenia 

autoimune como ocorre na trombocitopenia imunológica (PTI), em algumas doenças 

autoimunes e em infecções como a dengue, por outras infecções, por medicamentos, dentre 

outras causas.

 

A trombocitose ocorre quando a contagem de plaquetas está acima de 450.000/mm3 e, em 

90% dos casos é reacional (anemia ferropriva, infecções, resposta endócrino-metabólica ao 

trauma, pós cirurgia etc). A minoria pode ser causada por doença hematológica como as 

doenças mieloproliferativas (tal como a trombocitemia essencial) e que deve ser pesquisada quando as plaquetas têm níveis acima de 600.000/mm3 mantidos por, no mínmo 3 meses).


Para complementação do hemograma, a avaliação do sangue periférico, conhecida também como hematoscopia, serve para determinar se hemácias, leucócitos e plaquetas têm aspecto e número normal.

 

Sabemos que o sangue é vital: a função principal das hemácias é o transporte de oxigênio 

para as células. A dos leucócitos é o combate às infecções. As plaquetas são pequenos 

fragmentos de células que, ao serem ativadas, formam um tampão como parte dos primeiros passos da coagulação do sangue.

 

Com a análise do sangue periférico, o hematologista pode fazer e confirmar o diagnóstico dediferentes tipos de deficiência (ferropriva, vitamina B12, ácido fólico etc),

hemoglobinopatias, doenças como leucemias agudas e crônicas e outros distúrbios que 

envolvem a produção, função e destruição das células do sangue.